quinta-feira, 19 de julho de 2012

Um por fim.


     Fortes batidas na porta são ouvidas, então eu a abro. Um belo par de pernas entra rapidamente em meu recinto sagrado. A força com que o salto alto soca o chão é clara  acontecera alguma coisa. Um olhar assassino de um lado, um confuso do outro. Sirvo-lhe um Bourbon levemente adocicado. Que diabos estava acontecendo?, indaguei-me naquele momento. 

Por mais puro que o amor seja algumas vezes, é impossível decifrar o que se passa na cabeça do outro e, não preparado para o que estava por vir, retraí-me na defensiva. Palavras voavam ao vento, esbofeteavam-me o rosto. Gestos violentos chicoteavam a minha lombar. Eu não sabia o que ela queria exatamente. Ela sabia. Se acalme, eu disse. Ela respeitou. Deu uma profunda respirada, contou ate três enquanto prendia o ar em seus pulmões e exalou-o por completo. Repetiu o movimento respiratório.

     Sentou-se e deu mais um trago em seu Bourbon envelhecido em barris de carvalho. O copo, agora vazio, anunciava seu desejo estranhamente familiar por mais. Como minha mãe me ensinara, temos que ser bons anfitriões – sirvo-lhe outra dose. Uma pedra de gelo apenas, a seu gosto. Pensou, pensou e concluiu. O medo de me perder apareceu em ótima hora, eliminando sua raiva e ódio momentâneo por mim. Ainda não sei bem o que eu realmente fiz. Sendo um simples homem, como entender a mente poderosa de uma bela mulher? Não sei, de fato. Mas não sou o único. 

Ela se esparrama na cama e eu não encontro palavras. Fecha os olhos, abre-os, fecha-os de novo e, por fim, os mantêm abertos. Uma cara de preocupação.  O que passeia pelos ares agora não são mais palavras, mas olhares. Golpe baixo. Olhares que me penetram com a mesma intensidade e beleza de quando eu a mantinha a mais próxima possível  em nossos momentos mais íntimos.

     Movimentos minuciosos me afagam  os cabelos. Ainda estou encucado, o que acabou de acontecer?  Chamem-me de louco, talvez eu o seja. Uma vez um grande sábio disse que nenhuma vida está completa sem um toque de loucura. Sejamos loucos! Afinal, há um amor para cada cor. E quantas cores não temos? Ela prefere não comentar sobre o assunto, só diz ter-se confundido - quem está confuso agora sou eu. Ela pede por desculpas, eu aceito. Diz que nunca mais se repetirá. Por mais forte que eu seja, necessito seu chamego. Eu necessito sua intimidade e afeto. Desculpo-a com um sentimento ruim, um peso - não é a primeira vez que isso acontece, e talvez nem seja a última. Retrocesso ou recomeço?