Acordei exaltado e de repente estava em um funeral. Estava perdido e tentando descobrir alguma verdade que pairava no terreno em que me encontrava. Céu aberto, grama. E foi assim que soube de quem era o velório. Meu pai.
Algumas primas e parentes desidratavam em choro sentados em uma espécie de barraca, fui abraça-los. Segurei-me. Não chorei.
Deparei-me na frente do caixão em que meu pai descansava a mente. Ouvi sua voz do meu lado. Sim, meu pai estava do meu lado direito, e falando comigo! Que coisa absurda, disse.
- Tá vendo, filho? Tá vendo como é forte?
Silêncio.
- Não chorou. Percebe?
- Sim.
Ele parecia estar esplendidamente contente consigo. Sorria.
Parecia dizer que eu deveria tornar-me seu sucessor como o chefe da família.
Voltei os olhos para o caixão. Fogo surgiu repentinamente! E da mesma forma cessou. E, mais uma vez, o fogo instantâneo começou, agora, mais forte. Mais amarelo. Mais quente. Mais vivo para o morto.
Na hora, o caixão tornou-se em uma escultura de ouro. Dourado do começo ao fim. Talvez assim seja o interior do meu pai. Golden body, golden heart, golden mind. Não sabia dizer qual forma se tornara. Mas era a joia mais brilhante que já tinha visto na vida! E como brilhava...
Me olhei e percebi que estava com uma camiseta laranja - igual a uma que possuo na realidade.
Meu pai tinha sumido.
Uma amiga de infância agora estava ao meu lado, e disse:
- Todos na escola estão muito tristes pelo o que aconteceu. Estamos rezando por você e sua família. Vamos até lá...
- Como eles já sabem?
A escola, que na verdade era o corredor que dava para a entrada do meu quarto, estava lotada. Amigos da escola. Não reconheci nenhum, mas sabia quem eram. E, mais do que estranhamente, por algum motivo louco todos estavam com a mesmíssima camiseta laranja.
Não chorei.
Não sorri.
Não lastimei.
Somente vivi o momento.
Vivi para entender qual tipo de sentimento tive.
Ou deixei de ter.
Um beijo, pai.
,
Nenhum comentário:
Postar um comentário